sábado, 30 de janeiro de 2021

UM DOS ERROS DO PCB EM MATO GROSSO DO SUL

 Por Enio Ribeiro de Oliveira

A eleição de Wilson Barbosa Martins para governar o Estado de Mato Grosso do Sul, de 1983 a 1986, sem dúvida contribuiu bastante para a redemocratização do nosso Estado.

No governo de Wilson Martins,  nós, os dirigentes da União Douradense de Estudantes, a partir de 1983, passamos a ter franco acesso a rede estadual de escolas públicas. Em nossas visitas as escolas estaduais, os professores nos recebiam sorridentes e de braços abertos, além de permitirem que entrássemos nas salas de aulas e discutíssemos com os  alunos ações a serem desenvolvidas pela UDE. 

Por outro lado, na rede municipal, ocorria o contrário, já que o governo municipal era constituído por integrantes do Partido Democrático Social (PDS), defensores da então reinante, embora já enfraquecida, ditadura militar. E havia, na Secretaria Municipal de Educação, uma orientação aos professores, muito veiculada junto aos alunos no sentido de manterem-se distantes da UDE, caracterizada como subversiva e prejudicial ao bom andamento das atividades escolares na rede municipal.

Todavia, a "Lua de Mel" dos dirigentes da UDE com os professores da rede estadual de educação sofreu um duro golpe com a decisão do Coletivo Dirigente Estadual do Partido Comunista Brasileiro (MS) de apoiar a nomeação  pelo governador Wilson B. Martins para  Secretário de Educação de um advogado, o Dr. Leonardo Nunes da Cunha. A Federação dos Professores de Mato Grosso do Sul (FEPROSUL, atual FETEMS), se colocou contrária a esta nomeação porque queria como secretário de educação,  um professor.  

A fração Comunista Estudantil de Dourados - da qual eu era integrante, realizou uma reunião extraordinária e se posicionou contrária a nomeação do Dr. Leonardo para a Secretaria Estadual de Educação. A reunião foi realizada na casa de Atayde Nery (popular Júnior), sediada no BNH 4º Plano, Dourados. A decisão tomada pela Fração Comunista  Estudantil foi a de se colocar solidária à FEPROSUL. Aliás, o presidente da União Douradense de Estudantes, neste período, o João Carlos Torraca, o Macarrão, concedeu uma entrevista, no dia seguinte a TV Morena, hipotecando apoio a FEPROSUL.

Ocorre que 24 horas depois, a Direção Estadual do PCB, nos desautorizou e ainda nos passou aquele "sabão". Os comunistas ocupavam cargos no governo estadual, inclusive, de secretários. A meu ver, a direção estadual pesou os prós e contras, em relação a nomeação de Leonardo Nunes, e se alinhar ao governo foi considerado como a decisão mais pertinente. 

A partir deste momento, nós dirigentes da UDE, a maioria composta por militantes do PCB, passamos a ter o acesso dificultado pelos professores da rede estadual em salas de aulas das escolas da rede estadual de ensino e, em sendo assim,   dialogarmos e  mobilizarmos os estudantes ficou mais mais difícil.

O nosso relacionamento com a Associação Douradense de Professores (ADP), ficou menos amistoso, passamos a ser hostilizados, em alguns momentos e, cá entre nós, os professores estavam certos.

Este erro dos comunistas em avaliar a importância estratégica da nossa relação enquanto movimento estudantil com o movimento sindical dos educadores sul-mato-grossenses, contribuiu para que em 1986 perdêssemos as eleições para a direção da UDE, que passou a  partir deste ano a contar com dirigentes aliados aos governantes municipais - leia-se PDS. 

Também o contexto internacional contribuiu para o nosso desgaste, haja vista que em meados da década de 1980, Mikail Gorbachev, na ex-União Soviética protagonizava as reformas políticas e econômicas da ex-URSS, quais sejam,  a Glasnost e a Peristróika, visando a reformulação do socialismo e garantir  sobrevivência deste modo de produção naquele País . Estes dois fatos - o apoio dos comunistas ao Wilson B. Martins e as reformas na ex-URSS -, foram decisivos para que perdêssemos bastante credibilidade e apoio junto aos estudantes e professores.

Lamento muito o fato de até o presente momento, não ter havido uma autocrítica, por parte dos  camaradas e ex-camaradas do coletivo estadual sobre este deslize dos comunistas. O que me serve até certo ponto de consolo é que na Fração Comunista Estudantil Douradense, nós fomos coerentes ao se posicionarmos solidariamente à FEPROSUL.

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