sábado, 6 de fevereiro de 2021

COMUNISTA MELANCIA.

Por Enio Ribeiro

Nos anos 1980, em Dourados foi criada a Expressão : COMUNISTA MELANCIA. Designação dada àqueles camaradas que se assumiam comunistas apenas internamente, isto é, no PCB. Externamente, ninguém suspeitava que fossem comunistas.
Analogia: a melancia é verde externamente e vermelha internamente. Isto foi muito frequente com os camaradas que eram funcionários da Prefeitura, governada pelo PDS - Partido Democrático Social (ANTIGA ARENA - Aliança da Renovação Nacional), logo, Partidos da Ditadura Militar.
Foram muito importantes porque nos passaram informações importantes pra planejarmos nossas ações em contraposição as forças conservadoras.

OS COMUNISTAS x PT e UDE NOS ANOS 80

Por Enio Ribeiro de Oliveira 

Nesta página já fiz relatos diversos sobre o movimento estudantil douradense, na década de 1980, da qual, metade dela sob a direção dos comunistas.

Os comunistas se tornaram dirigentes da União Douradense de Estudantes em 1983, sofrendo oposição do Partido Democrático Social (PDS). O PDS era o Partido do Ditadura Militar que, embora enfraquecida, ainda dava as cartas nos destinos do País e em Dourados elegeu o Prefeito, Luiz Antônio e diversos vereadores.
Já o PMDB fazia oposição parcial a UDE, haja vista que, sendo muito mais uma Frente de Oposição a Ditadura Militar do que propriamente um partido, abrigava em seu seio democratas, teologia da libertação e comunistas.
Atuando no movimento estudantil, além dos comunistas, um outro Partido de Esquerda, o Partido dos Trabalhadores. O PT tinha sido criado recentemente, em 1980. Cito alguns dos petistas do referido período: os irmãos Onildo e Israel Lopes e Arcelei Bambil. O PT embora fosse de esquerda, divergia em muitos dos encaminhamentos dado a questão política e estudantil.
Sendo assim, uma vez terminada as reuniões, encontros, assembleias e congressos da UDE, ocorriam entre petistas e comunistas, nas quais, as discussões eram muito acaloradas. Os petistas nos rotulavam de "traidores" da classe operária. Na avaliação dos petistas precisávamos radicalizar no enfrentamento a Ditadura Militar. E nós avaliávamos que se adotássemos o radicalismo do PT, colocaríamos tudo a perder.
E neste ponto, aproveito para fazer uma relato de duas questões que foram muito polêmicas quando da realização do 1º Congresso Municipal pela União Douradense de Estudantes. no anfiteatro do então Centro Universitário de Dourados (CEUD/UFMS), em 1983.
Nós, os comunistas tínhamos a hegemonia no movimento, no entanto em duas questões, durante o Congresso, a diferença de votos foi apertadíssima, nós aprovamos as propostas defendidas pelos estudantes comunistas, mas por um placar muito a apertado, recorrendo a um jargão popular, ganhamos "com as calças nas mãos". Ei-las a seguir:
DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA
o tratamento a ser dado a dívida pública externa brasileira para comunistas seria a moratória unilateral e para os petistas o rompimento puro e simples da mesma.
Eu compus a mesa diretora do Congresso e coube a mim a ingrata função de cronometrar o tempo, o famoso 03 minutos para cada inscrito fazer a defesa de sua proposta.. A discussão estava tão quente que, ninguém se limitava aos 03 minutos. Então o presidente da mesma (o Macarrão), teve que desligar o som por diversas vezes para que o tempo de fala fosse respeitado. Imaginem os impropérios que ouvimos, especialmente, dos estudantes petistas;
JORNAL VOZ DO ESTUDANTE
a outra questão que dividiu os participantes do Congresso, foi o nome a ser dado ao jornal periódico da UDE. Os estudantes comunistas defendera que o nome do mesmo fosse: VOZ DO ESTUDANTE. Este nome nós o defendemos pelo fato de o Jornal Periódico do PCB, editado pelo PCB , mesmo sendo um partido llegal, nos anos 1980, ser denominado de: VOZ DA UNIDADE. Conseguimos aprovar o nome de Voz do Estudante.
Eu, particularmente, hoje avalio que podíamos ter sido mais sensatos e termos pensado um outro nome que não fosse vinculado a nenhum Partido. Mas o fato é que este nome foi aprovado. Os petistas defendiam um outro nome: CAMINHANDO. Aliás o nome Caminhando estava vinculado a uma tendência, então existente no PT, denominada de CAMINHANDO. Novamente as discussões foram quentes.
Felizmente, nas demais resoluções e encaminhamentos, a votação foi tranquila.
Em que pese tudo o que relatei nesta postagem, eu avalio que a participação dos petistas foi muito importante, qualificada e contribuiu para que nós, os comunistas e dirigentes da UDE, nos empenhássemos ao máximo para encaminhar o que foi aprovado no Congresso Estudantil. Não por acaso , em 1983, a UDE foi considerada uma das entidades mais combativas no Brasil.
Eis algumas das nossas ações:
1) Aliança Operária-Estudantil e por conta da qual passamos a participar de protestos, panfletagens e lutas sustentadas pelo movimento sindical em Dourados. Aliás, muitas e muitas vezes, fomos até as empresas e locais de trabalho conversar com os trabalhadores sobre o sindicato e a importância deles participarem. Nós os estudantes fomos decisivos na formação do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Dourados. Eu inclusive, quantas e quantas vezes visitei diversas construções em andamento, nas quais tive um dedo de prosa com os trabalhadores da construção civil expus pra eles o quanto era importante terem um sindicato da categoria. E graças a este nosso esforço, o sindicato foi criado.
2) Fizemos mobilizações e fechamos a Marcelino Pires contra o fechamento do Educandário Santo Antônio, escola que funcionava na Igreja Matriz Católica de Dourados. Se a memória não estiver sendo carrasca comigo, esta mobilização ocorreu em 1983;
3) Fizemos diversas manifestações contra a cobrança de mensalidades na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Queimamos carnês nos corredores da universidade. E fomos vitoriosos em nossa luta;
3) Intensificamos a luta pela criação dos grêmios livres. Até então existiam os centros cívicos, e nos quais, era obrigatória a presença de um professor para controlar os estudantes, o entulho autoritário da ditadura militar. Alguns anos depois foi aprovado em lei o grêmio estudantil, o qual é, dirigido só por estudantes, o que é o correto;
4) Nos posicionamos favoráveis a luta dos professores por melhores salários e aprovação do Plano de Cargos e Carreira;
5) Estivemos na organização e participando do movimento pelas Diretas Já;
6) Passamos a editar o Jornal Voz do Estudante;
7) organizamos protestos, atos públicos e pressionamos os vereadores da época, inclusive, ocupando a Câmara Municipal de Dourados para que aprovassem o meio passe estudantil, luta que foi vitoriosa;
E por aqui faço uma pausa. além dessas ações relatadas, outras igualmente importantes, ocorreram