terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Natal no Centro Espírita Allan Kardec


*Enio Ribeiro de Oliveira
             O 25 de dezembro, dia do nascimento do menino Jesus, data que sempre faço uma viagem de volta ao passado, me vejo na minha infância, mais precisamente na década de 1960, num lugar denominado São Lourenço, localizado na zona rural do município de Caarapó (MS) e durante a qual me vem lembranças de fatos muito marcantes e, para os quais peço licença, amigos leitores para abordar um pouco do significado delas, em especial para as crianças daquela comunidade rural.
         Em São Lourenço existia o Centro Espírita Allan Kardec, única casa religiosa do lugar, por isto mesmo, contava entre os seus freqüentadores não apenas com os espíritas e simpatizantes, mas também católicos, evangélicos e ateus. Evidentemente grande parte das pessoas lá compareciam, atraídas não pelos princípios filosóficos e religiosos do kardecismo, mas porque, esta casa espírita se constituía em ponto de encontro com amigos,  momentos simultaneamente de socialização, de jogar conversa fora, de ter uma conversa particular com alguém, etc, cujo contato não era fácil.
          Nos anos 1960, na região não havia linha de telefone fixo,  celular e internet. A comunicação popular era feita através da Rádio Clube de Dourados. Alguns fazendeiros faziam uso do rádio amador. Neste contexto, uma solenidade desta magnitude desempenhava um papel relevante para as pessoas tratarem de assuntos variados e de seu interesse.
        No Centro Espírita Allan Kardec, cerca de dois meses antes do dia de natal, os seus dirigentes, os Srs. Antônio Ribeiro, Ildefonso Ribeiro e Antônio Costa, num trabalho de fôlego e muita abnegação, visitavam casas comerciais existentes em Caarapó, Nova América e de Dourados junto as quais pediam donativos (brinquedos) para fazer o natal das crianças de São Lourenço mais alegre,tempo de sonhar e de serem mais felizes. Geralmente os brinquedos eram bolas de plástico e de borracha para os meninos e bonecas paras as meninas. Também arrecadavam muita bala doce.
       De posse destes donativos, no dia 24 de dezembro, véspera de natal, era realizada uma solenidade festiva, marcada por palestras e apresentações culturais (declamação de poemas, pecinhas teatrais, canções, etc.) visando homenagear Cristo e ao mesmo tempo sensibilizar as pessoas, especialmente as crianças, para que cultivassem valores como a generosidade, a solidariedade, a fraternidade, a honestidade, a humildade e os valores cristãos.  Ao final da solenidade alguém fazendo o papel de Papai Noel distribuía os brinquedos arrecadados para as crianças, dentre as quais eu me incluía. Saíamos num estado de indescritível e assaz alegria.
           O Centro Espírita Allan Kardec desempenhou em São Lourenço um papel que ia muita além das atribuições religiosas. Desempenhou funções inerentes a assistência social e aos centros culturais e de valores cristãos, em especial no período natalino e no dia das mães, data que outra grande solenidade era realizada.
      Para este trabalho, além dos dirigentes citados, outras pessoas também contribuíram, embora de forma menos intensa, dentre elas, os Srs. João Felício, Augusto Ribeiro, José Ribeiro, Antônio de Paula, Pulcina Ferreira.
        Mas de todas elas, a meu ver, Ildefonso Ribeiro, era o grande líder, o principal pensador. Ele, até por ser professor, conferia a todas as ações um caráter marcantemente pedagógico, de tal sorte que todas as comemorações natalinas no Centro Espírita Allan Kardec, resultavam em momentos ao mesmo tempo de confraternização, de comemoração, de realização das fantasias de meninos e meninas, de ministrar aulas - não no sentido formal - de humanismo, de cristianismo e que contribuiu  muito para criar uma identidade cultural naquela comunidade, embora nem todos comungassem da crença espírita.
*Professor de geografia na Escola Menodora, rede estadual de ensino.

   

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