*Enio Ribeiro de Oliveira
O 25
de dezembro, dia do nascimento do menino Jesus, data que sempre faço uma viagem
de volta ao passado, me vejo na minha infância, mais precisamente na década de
1960, num lugar denominado São Lourenço, localizado na zona rural do município
de Caarapó (MS) e durante a qual me vem lembranças de fatos muito marcantes e,
para os quais peço licença, amigos leitores para abordar um pouco do significado
delas, em especial para as crianças daquela comunidade rural.
Em São
Lourenço existia o Centro Espírita Allan Kardec, única casa religiosa do lugar,
por isto mesmo, contava entre os seus freqüentadores não apenas com os
espíritas e simpatizantes, mas também católicos, evangélicos e ateus.
Evidentemente grande parte das pessoas lá compareciam, atraídas não pelos
princípios filosóficos e religiosos do kardecismo, mas porque, esta casa
espírita se constituía em ponto de encontro com amigos, momentos simultaneamente de socialização, de
jogar conversa fora, de ter uma conversa particular com alguém, etc, cujo
contato não era fácil.
Nos anos 1960, na região não havia linha de
telefone fixo, celular e internet. A
comunicação popular era feita através da Rádio Clube de Dourados. Alguns
fazendeiros faziam uso do rádio amador. Neste contexto, uma solenidade desta
magnitude desempenhava um papel relevante para as pessoas tratarem de assuntos
variados e de seu interesse.
No Centro Espírita Allan Kardec, cerca de dois
meses antes do dia de natal, os seus dirigentes, os Srs. Antônio Ribeiro,
Ildefonso Ribeiro e Antônio Costa, num trabalho de fôlego e muita abnegação,
visitavam casas comerciais existentes em Caarapó, Nova América e de Dourados
junto as quais pediam donativos (brinquedos) para fazer o natal das crianças de
São Lourenço mais alegre,tempo de sonhar e de serem mais felizes. Geralmente os
brinquedos eram bolas de plástico e de borracha para os meninos e bonecas paras
as meninas. Também arrecadavam muita bala doce.
De posse destes
donativos, no dia 24 de dezembro, véspera de natal, era realizada uma
solenidade festiva, marcada por palestras e apresentações culturais (declamação
de poemas, pecinhas teatrais, canções, etc.) visando homenagear Cristo e ao
mesmo tempo sensibilizar as pessoas, especialmente as crianças, para que
cultivassem valores como a generosidade, a solidariedade, a fraternidade, a
honestidade, a humildade e os valores cristãos.
Ao final da solenidade alguém fazendo o papel de Papai Noel distribuía
os brinquedos arrecadados para as crianças, dentre as quais eu me incluía.
Saíamos num estado de indescritível e assaz alegria.
O Centro
Espírita Allan Kardec desempenhou em São Lourenço um papel que ia muita além
das atribuições religiosas. Desempenhou funções inerentes a assistência social
e aos centros culturais e de valores cristãos, em especial no período natalino
e no dia das mães, data que outra grande solenidade era realizada.
Para este
trabalho, além dos dirigentes citados, outras pessoas também contribuíram,
embora de forma menos intensa, dentre elas, os Srs. João Felício, Augusto
Ribeiro, José Ribeiro, Antônio de Paula, Pulcina Ferreira.
Mas de todas elas, a meu ver, Ildefonso
Ribeiro, era o grande líder, o principal pensador. Ele, até por ser professor,
conferia a todas as ações um caráter marcantemente pedagógico, de tal sorte que
todas as comemorações natalinas no Centro Espírita Allan Kardec, resultavam em
momentos ao mesmo tempo de confraternização, de comemoração, de realização das
fantasias de meninos e meninas, de ministrar aulas - não no sentido formal - de
humanismo, de cristianismo e que contribuiu muito para criar uma identidade cultural
naquela comunidade, embora nem todos comungassem da crença espírita.
*Professor de geografia na Escola
Menodora, rede estadual de ensino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário