Em Dourados, fundamos o Partido Comunista Brasileiro, em 21 de Julho de 1981, por sinal uma noite fria. Reunião em que se fizeram presentes simpatizantes e militantes comunistas, antigos e jovens e foi conduzida por Gilberto Carvalho, um velho militante do Partidão, desde os anos 1950.
Porém, um “bode” estava colocado em nossa sala.
Me refiro a uma discussão que se fazia sobre o Luís Carlos Prestes, militante
que desde os anos 1930 dedicou sua vida ao PCB. Naturalmente, existia muito
respeito e, obviamente um culto ao camarada Prestes. Ele era um mito, não por
acaso, já que inúmeros sacrifícios, eu diria, heroicos, este camarada fez em prol
da causa comunista.
Ocorre que nos anos 1980, por conta, inclusive,
da crise do socialismo real, parte dos camaradas do Partido Comunista
Brasileiro, deram início a uma discussão sobre o quanto era prejudicial ao PCB
o culto a personalidade de Prestes. Evidentemente que isto dividiu o Partidão.
Muitos camaradas, valiosíssimos não concordaram em por fim ao culto ao
camarada,Luís Carlos Prestes. Em Dourados, este debate era recorrente. Me
lembro que por diversas vezes, o meu pai
(Epifânio Ribeiro), colocava o Luís Carlos Ribeiro (presidente do
Coletivo Municipal do PCB em Dourados) contra a Parede, e demonstrando indignação
dizia: vocês não podem fazer o que estão fazendo com o Prestes. Isso é um erro
histórico.
Este debate ocorreu ao longo de vários meses no Periódico Semanal do PCB
(Jornal A Voz da Unidade). Análises e mais análises eram feitas sobre a
pertinência de estabelecer uma outra relação do Partidão com o câmara Prestes.
O fato é que, Luís Carlos Prestes, descontente com esta siutação saiu do PCB e
ingressou no PDT, então, sob a liderança de Brizola. Lembrando que Luís Carlos
Prestes, contou sempre com o apoio incondicional do arquiteto Oscar Niemeyer, o
qual, inclusive, bancava parte dos custos de Prestes.
O Partidão passou a ser dirigido por Giocondo
Dias, ator já falecido. Foi um momento muito difícil porque a História do PCB
até então não poderia ser pensada sem o camarada Luis Carlos Prestes. Confesso
que, embora, fosse muito jovem, eu nutria grande admiração pelo Luís Carlos
Prestes, e me incomodava muito esta posição que o PCB tomou em relação ao
“Velho”, assim era chamado Luís Carlos Prestes. Porém, me mantive firme como
militante do PCB. Mas, tenho dúvida, até os dias de hoje, se realmente era
necessário ter assumido esta discussão e arcado com o ônus de, vamos assim
dizer, “desprestigiar o Luís Carlos Prestes.