João Pedroso, um morador muito
especial na Vila Cerrito
João Pedroso
Faustino, nasceu em 25 de fevereiro de 1939, Vila Cerrito e nunca morou em
outro lugar; é também o morador, ainda
vivo, mais velho da mesma, na qual é proprietário da Chácara São João.
Seo João Pedroso é
pai de sete filhos. São eles: Sueli, Roseli, Neuseli, Alisson (falecido),
Alessandro, Anderson e Adalberto.
Casa em que nasceram vários filhos de Seo João Pedroso,
esta casa já não existe mais.
A exemplo de Seus
pais, João Pedroso é lavrador, para ser mais preciso, um pequeno agricultor. Na
condição de pequeno agricultor, para garantir a sua subsistência, a exemplo de
seus pais, criava e plantava um pouco de tudo: milho,
porco, arroz, feijão, galinha, mandioca, etc. A produção se destinava para o
consumo próprio, todavia, quando havia excedentes, comercializava a mesma.
Curral em que Seo João Pedroso tira leite de suas vacas,
localizado em sua chácara, na Vila Cerrito
Discorrendo sobre sua
experiência como lavrador, João Pedroso, relatou que era muito comum nas
décadas de 1940, 1950 e 1960, aparecer um negociante no período da safra, o
qual comprava a produção de praticamente todos os agricultores da região.
Comprava, evidentemente por um preço bem baixo e revendia estes produtos nos
centros urbanos por um preço muito maior. O negociante, relatado por Seo Jão
Pedroso, nada mais é do que o intermediário - comerciante que se coloca entre
os agricultores e os consumidores finais- e que impõe uma lógica perversa no processo, já que o lavrador não tem um bom lucro e, por outro lado, o consumidor paga
muito caro pelos produtos agrícolas. Evidentemente quem obtém grandes ganhos é
o intermediário.,
Foto de quando estava no quartel: detalhe,
ao lado modelo dos antigos caminhões fabricados pela Chevrolet, conhecidos popularmente com V-8.
Apesar desta ação
danosa do intermediário, Seo João Pedroso, relatou que naquela época, mesmo
comercializando o que produzia a baixos preços junto aos intermediários, os
lavradores ainda obtinham um lucro razoável, devido ao fato de na região da Vila
Cerrito, as terras serem muito boas, não havendo necessidade de utilizar veneno
nas plantações, já que as pragas – ervas e insetos que provocam muitos danos,
quando não à morte das lavouras, eram controlados pelos seus predadores -,logo
a produtividade era muito grande e os custos de produção não tão altos como
atualmente, graças a qual, o lavrador conseguia sobreviver. Para comprovar o
que afirmou, Seo Jão assim relatou, “eu mesmo certa vez, ganhei um litro
de feijão para plantar. Com este um litro plantado, tive a felicidade de colher
um saco e meio feijão”; plantou para consumo próprio. Do total produzido ficou com apenas meio saco, vendendo o restante, um saco. Com o dinheiro obtido, comprou uma botina, uma tecido para fazer roupa e cigarros.
Testemunha
ocular da história da Vila Cerrito.
Atualmente é único
morador ainda vivo que durante toda a sua vida morou na Vila Cerrito. É a
testemunha ocular mais indicada para contar um pouco da história desta Vila..
João Pedroso disse
que a Vila Cerrito era, outrora dominada por campos nativos – cerrados -, nos quais
havia guaivira em abundância e que parte das terras dela foram ocupadas
pelas plantações de erva mate nas décadas de 1930. 1940, 1950 e 1960. Este
produto, no período citado, se constituiu na base da economia do sul do Mato
Grosso - esta região em 1977, foi desmembrada de Mato Grosso para dar origem ao
Estado de Mato Grosso do Sul.
João
Pedroso conheceu e conviveu com o Seo Nhonhô
João Pedroso revelou
que conheceu e conviveu muito com o Antonio Alves da Rocha, (Seo Nhonho). Seo
Nhonhô, em 1938, se estabeleceu com a Casa Comercial Cerrito, a primeira da
Vila. Na verdade era um armazém – tipo de comércio muito comum no século XX, no
qual o consumidor encontrava de tudo para consumir: tecidos, alimentos,
equipamentos agrícolas, querosene, etc, ou seja, produtos industrializados, agropecuários, artesanais, etc.. Estes tipos de armazéns, desempenharam o papel de precursores dos Shoppings, já que neles, evidentemente que sem
a sofisticação dos últimos, as pessoas encontravam tudo o que necessitavam.
João Pedroso disse que
Seo Nhonhô era um excelente farmacêutico, e que por duas vezes, ele próprio,
foi curado por ele. Na primeira vez de crup e na segunda de uma sinusite. Sobre a sinusite relatou que
Seo Nhonhô lhe passou alguns remédios para que tomasse, os quais provocaram
muito secreção, eliminação de catarro e até hoje, nem dor de cabeça sente mais.
Testemunho semelhante,
atestando o grande profissionalismo, competência e conhecimentos farmacêuticos
de Seo Nhonhô, foi dado por uma das
filhas de João Pedroso, Dona Sueli , que
assim se expressou: “eu estava desenganada pelos médicos, em virtude uma pneumonia. Porém, o Seo Nhonhô me curou”. Sueli disse que por conta desta
doença, seu Pai – o Seo Jão Pedroso -, teve que vender um
cavalo, cujo nome era Baio. Este cavalo, por sinal, foi domado pelo Seo João
Pedroso, com o qual, ganhara muitas corridas de cavalos realizadas na cancha
construída pelo Seo Nonhô nas imediações da Casa Cerrito.
Domador e corredor vitorioso.
Eis o Seo João Pedroso, em uma linda montaria, uma das coisa que
mais gosta de fazer, inclusive nos dias atuais.Esta
foto confirma o que diz uma de suas filhas, a Sueli, ele é
extremamente vaidoso.
Seo João disse que
quando mais jovem era domador de cavalos, inclusive, domou um potro, para o qual
deu o nome de Baio, cavalo com o qual ganhou muitas corridas na cancha
construída pelo Seo Nhonhô. Aliás o Seo Nhonhô construiu duas canchas, cujo
objetivo era atrair mais fregueses para comprarem no seu comércio, a Casa Cerrito. Porém, a
cancha mais prestigiada, localizava-se onde atualmente fica a propriedade do
Seo Rudi Eberalto. Nenhuma das duas canchas existe mais.
Quando indagado se, por conta de ter sido muitas vezes vitorioso nas corridas, não fora muito
assediado pelas moças, o Seo João Pedroso, desconversou: “as moças só se
interessavam pelo meu cavalo, o Baio. Eu sempre passei despercebido
perante aos olhos delas.”
Todavia, segundo sua
filha, a Dona Sueli, Seo João Pedroso, era muito vaidoso e muito bonito, andava
sempre muito elegante, portanto, é muito provável que muitas moças suspirassem
de amor e de paixão por ele, ainda mais sendo um vencedor freqüente de corridas de
cavalos.
Apenas esta roda é o que sobrou de uma carroça que foi adquirida pelo
Seo João Pedroso há mais de 50 anos atrás
Espora que o Seo João Pedroso, guarda
em seu galpão,
Por outro lado, Seo
João Pedroso disse que além de domar, cavalgar e participar de corridas à cavalo, gostava muito de dançar. Foi à muitos bailes na aldeia indígena, já que era
muito amigo do capitão da aldeia, bem como dos policiais responsáveis por cuidar dos
indígenas. Disse que ia nos bailes para se divertir e que nunca se envolveu em
confusão, apesar de andar armado. Andar armado, naquele período, segundo Seo
João Pedroso era normal e comum, porém, ele nunca puxou e apontou o seu revólver
para quem quer que seja.
Cantil que Seo João guarda em seu Galpão,
adquirido, segundo ele, há mais de 50 anos.
Estudou até o 3º Ano
Primário. Naquele tempo – acrescentou Seo Jão Pedroso - na região os
governantes não construíam escolas. As crianças estudavam na casa de alguém.. Seo
João, lembra que estudou na casa do Seo André e Deliberalina Pires, sua professora, com a
qual aprendeu a ler e as quatro operações de matemática (somar, diminuir, multiplicar
e dividir), conhecimento que muito o ajudou ao longo de toda a sua vida.
Revelou também que
muitas crianças iam descalças para a escola, haja vista que a vida era muito
difícil. Todavia, todo mundo ia com a roupa bem limpa.
Um
caminhão, a grande atração.
Seo João disse que na
sua infância e mesmo na fase adulta, a presença de um carro, um caminhão na
Vila Cerrito, era coisa muito rara, era mais ou menos, como se aparecesse aqui
na nossa cidade um extraterrestre.. Quando chegava a notícia de que algum caminhão
aparecera por lá, todo mundo ficava alvoroçado e saía correndo para vê-lo. Era
um verdadeiro espetáculo.
Observação Basta lembrar que no Brasil, as montadoras de carros
começaram a se instalar a partir do final da década de 1950, logo um veículo
automotivo quando vinha a esta região era motivo de grande alvoroço.
Filho de
uma família tradicional e de Pioneiros em Dourados.
Foto de Izidro Pedroso Filho (falecido)
Moças e rapazes, membros da família Pedroso.
Izidro Pedroso, sua esposa Alzira e a sua Filha Gladir
Foto com membros da tradicional Família Pedroso.
Só por ser integrante
da família Pedroso, diga-se de passagem, família muito tradicional e pioneira
em Dourados, Seo João Pedroso, já despertaria muito interesse. E o fato de ser
o morador vivo mais antigo da Vila Cerrito, o torna mais importante, sob o
aspecto histórico.
Na Vila Cerrito, comprovando o prestígio da família
Pedroso, um dos dois cemitérios lá existentes pertence a mesma, na qual
estão sepultados um dos seus irmãos e a sua esposa).
|
Cemitério da família pedroso, localizado cerca de 1000 m da Vila Cerrito |
|
Cemitério da Família Pedroso visto de um outros ângulo |
Este
cemitério existe há mais de cinqüenta anos e até hoje acontecem sepultamentos
no mesmo. Distante da Vila, cerca de 500 metros, existe um outro cemitério, de
propriedade da comunidade luterana.
Um cidadão simples, boa prosa e de bem com a vida.
A título de conclusão, sobre o Seo João Pedroso, pode ser
dito, pela idade que tem, que está muito bem, é alegre, boa prosa,
continua na lida em sua chácara, na qual cria galinhas, tira leite das vacas,
trata dos porcos, etc. De vez em quando, para não perder o costume, é visto
cavalgando pela Vila Cerrito.